Que dia?

Ele me observa com pérolas negras e molhadas que espero que estourem um dia. Acho que nunca dorme, embora há muito eu tenha desistido de qualquer tentativa de fuga. Meu corpo já não consegue mais. E mesmo assim tenho fome. Ele me traz carne, às vezes. Eu tento não pensar. Não, sinceramente, eu nem penso. Consumo avidamente as entranhas escorrendo que ele fornece como se na verdade eu fosse o monstro. Deixou-me rastejar até a borda do ninho, para beber de um pequeno bolsão de água fumegante, embora eu suspeite que o líquido nocivo me envenena lentamente. Eu me pergunto, camarada, se você ainda vive. Você riria comigo, sabendo o preço que pagamos por caçar peles de ferro?